Dentre tantas outras coisas, tantos outras feridas, você conseguiu causar a mais profunda desta vez. Eu achava que não acreditava no amor, que não sabia amar, mas na verdade sempre soube. Sempre soube aceitar o segundo plano em que você me colocou muitas vezes, sempre soube aceitar o seu desdém em relação a minhas dores, sempre soube me colocar na posição de louca que tantas vezes você disse que eu era, sempre soube engolir quieta as sacanagens que você me fazia, sempre soube te colocar na frente na minha vida: na frente até de mim mesma, sempre soube tentar abrir seus olhos em relação a tudo, sempre soube engolir seco você ignorando isso, sempre soube aceitar você falando que não tinha nada a ver, sempre soube me sentir um lixo por causa do seu egoísmo. E mais além, desta vez, soube te aceitar de volta, soube deixar você me tocar de novo, soube me achar um monstro, soube reconhecer meus erros, soube tentar mudar, soube deixar ir quem era importante, soube perder o fôlego atrás de você quando você já tinha ido, soube te ver com outros olhos, soube me anular por meses por você, soube me preservar, soube me trancar em casa e chorar no lençol dos meus amigos. Tudo isso enquanto você estava com outra, com outras. Outras que sempre disse ser fruto da minha loucura. E por conta disso, não foi uma ou três traições: você me traiu de todos os modos que alguém poderia me trair. Beijou outras bocas, expos isso para todos, sendo que quando estava comigo brigava sempre por não querer se exposta. Todo o discurso que você sustentava se mostrou insustentável, tudo o que você me dizia se mostrou mais uma farsa. Nunca quis se expor comigo, mas passou na mão de todas as pessoas possíveis publicamente. Dizia que eu era louca, defendia quem contribuiu para o término do nosso namoro, se entregou a essas pessoas. Eu soube te amar. Talvez como nenhuma amou, talvez como você nunca mais será amada. Antes eu me refugiava nas lembranças boas, mas hoje não exergo mais nada, nada além das suas mentiras, da sua traição, do seu egoísmo, da sua liquidez. Eu soube te amar, só não soube me amar. Sinto pena do seu desespero em tentar me esquecer com outras pessoas e com isso me tirar para sempre da sua vida. Me trocou tão fácil e por tão pouco. Eu te perdôo, só não me perdôo. Não me perdôo por sempre pensar em você e nunca em mim. Não me perdôo por me afundar, por me fechar para o mundo...tudo isso enquanto você estava em outros corpos. Cronologicamente, no dia em que você passava na mão de todas, eu estava chorando por você e pensando colocar fim a mim mesma. Isso talvez seja o que mais dói. Como eu pude? Chorar enquanto para você era tão simples? Por isso você tem meu perdão. Estou tentando agora me perdoar apenas, por ter te amado tanto e não me amado. Esqueci de mim mesma e lembrava de você, enquanto você estava nos braços de uma, duas, três...dez, sabe-se lá. É um adeus e um parabéns por, como boa egoísta que sempre foi, ter me dilacerado de todos os modos.