Em dia como esses é onde eu resgato-me do abismo em que os dias intermediários me levam. Sinto-me tão leve que poderia voar para longe daqui. Não nasci para raízes, por isso essa inquietude de liberdade cresce cada vez mais dentro de mim. Eu quero luzes, quero pessoas, quero natureza, quero o mundo. Em meio às pequeníssimas coisas cotidianas, essa infinitude que possuo se anula, e entrego-me facilmente às mesquinharias. Não sei se certas coisas são incríveis porque acontecem raramente, ou se acontecem raramente por serem incríveis. Tanto faz. O que importa é que não sou concreta, assim como minhas raivas, meus amores, minhas inseguranças, meus medos. Eu sou abertura e é nessa abertura que minha existência me puxa para fora de mim mesma fazendo com que tudo se movimente. Como sinto-me presa ao sistema! Minha vontade agora é pegar o primeiro ônibus e ir de encontro ao nada, para que assim ele se faça tudo. Sinto-me mal com a realidade que eu mesma construí, não quero mais que minha existência seja feita em cima disso. Sensação semelhante a de dois anos atrás, quando a inquietude de mudança de cidade tomava conta de mim. Guaratinguetá, foi prazeroso te conhecer, mas você tornou-se pequena demais para o tamanho dos meus desejos. Apenas dois anos, mas para quem necessita ser nômade, parecem mais duas vidas. Me sinto infinita para ir sem medo de encontro ao inesperado.